Ser ou ter não tem sido uma questão. A pauta moderna é a preocupação em mostrar aos outros um mundo baseado no ideal de satisfazer os padrões. Ser ou postar? Vivenciar ou gravar?

A ascensão social que a internet nos apresenta diariamente faz com que as pessoas sejam marionetes pela busca de aceitação. Há pessoas que assistem a shows ao vivo presencialmente, porém, através da tela. Afinal, se não for gravado, como os outros vão saber que eu estive “presente”?

O culto à aparência

Através das redes sociais, o culto à aparência está relacionado com a necessidade de aceitação, mas isso pode ser um reflexo de inseguranças e outras questões, como pode ser também uma armadilha perfeita para que você se sinta mal consigo mesmo por não ter a vida que os outros mostram.

Mas, por que é tão relevante e fundamental para você a validação dos outros? Será que atender às demandas dos outros para obter aceitação te faz bem? Será que as redes sociais geram dependências de aceitação? Mas, afinal, aceito pelo quê? Ser aceito por quem?

A aceitação e curtidas em redes sociais não garante o reconhecimento dos seus potenciais e valores próprios. Nesse movimento de buscar o outro para validar-se, podemos nos submeter a situações desconfortáveis, fazer coisa que normalmente não faríamos para obter a satisfação de ser aceito, pertencente e querido pelos outros. 

Por meio dessas redes, as pessoas fazem correntes e desafios para postar e receber curtidas e, consequentemente, para ser aceitas. Quando um famoso comenta, aquilo vira um print que é repostado e esse famoso exaltado.

Sem mencionar que as informações podem ser manipuladas, as chamadas fake news. Um exemplo simples é quando passageiros fazem check-in em aeroportos, quando na verdade estão saindo de rodoviárias. Postam fotos em lugares que nunca estiveram, etc.

Em 2017, a ministra da saúde francesa Marisol Touraine afirmou que “Expor jovens a imagens normativas e irrealistas leva a uma sensação de auto depreciação e de baixo autoestima, que pode afetar comportamentos relacionados à saúde.”. O contexto dessa afirmação se deu quando o governo francês estabeleceu que imagens retocadas teriam “alerta de photoshop”. 

Saúde mental em questão

Há algum tempo o Instagram retirou o número de likes das postagens na tentativa de amenizar os efeitos negativos e aumentar a autenticidade das postagens. Por ser uma rede social focada na imagem, é considera como a pior rede para a saúde mental segundo pesquisa feita pelo Ryal Society for Public Health.

A pesquisa aponta que as imagens podem gerar sentimentos de inadequação à vida perfeita, ansiedade por curtidas e depressão nos jovens. 

Fica evidente que não é um problema que poucas pessoas enfrentam. A ativista Jean Kilbourne, autora do livro “Deadly Persuasion: Why Women and Girls Must Fight the Power of Advertising” (Persuasão mortal: Por que as mulheres e as meninas devem combater o poder viciante da publicidade, em tradução livre e sem edição em português), disse: “Os anúncios vendem mais do que produtos. Eles vendem valores, vendem imagens, vendem conceitos de amor e sexualidade, de sucesso e, talvez o mais importante, de normalidade. Em grande medida, nos dizem quem somos e quem devemos ser”.

Vale mencionar ainda que a exposição demasiada na internet, pode sim ser prejudicial. Podemos citar exemplos corriqueiros como enviar uma imagem em um grupo que não deveria, como também em uma complexidade maior, em casos onde outros usuários podem utilizar informações contra você, uma foto pode revelar os lugares que você frequenta, seus bens, seus interesses e aparentemente a sua privacidade. 

Uma pergunta que lhe pode ser útil nesse processo de reconhecimento, sem estar atrelado ao que o outro vai achar é: quem estabelece o padrão do que pode ou não ser aceito?

Devemos então para de usar as redes sociais?

Ressalto ainda que não é a ideia deste recomendar que se pare de usar as redes sociais, mas sim propor uma reflexão sobre a tirania imposta pelas redes sociais e o culto à aparência. Gostaria que você leitor, olhasse um pouco para si de forma mais atenda e cuidadosa, identifique suas próprias demandas, vista-se para si, use as redes de forma consciente.

Com essa tentativa pretende-se fazer com que você veja sua beleza interior e se desvincule do que os outro vão achar, dos números de curtidas e comentários que só tem sentido para o marketing e não para a promoção de bem-estar. 

Desta forma, uma saída pode ser a busca pelo autoconhecimento, pois é possível sim refletir sobre a necessidade de ser aceito, ser ouvido sem ser julgado, falar sobre dificuldades e possíveis falhas sem se sentir culpado.

Através de uma terapia, por exemplo, sendo que o processo de psicoterapia pode ser essa alternativa para dialogar sobre esses diversos modos de ser no mundo, de forma ética, sigilosa e científica. Construindo uma independência emocional para se livrar da validação alheia. Estabelecendo um dialogo que qualifica em primeiro lugar a própria aceitação para que depois possa identificar os grupos que o aceite como você é e não o contrário. 

Olá, me chamo Fabiano de Melo Ferreira, sou psicólogo clínico e se você gostou deste texto, venha conhecer um pouco mais sobre meu trabalho. De uma forma geral trabalho com foco no desenvolvimento emocional, pois grande parte do processo de psicoterapia diz respeito à forma como a pessoa se percebe e lida com seus sentimentos e emoções diante de frustrações, por exemplo, se a opinião dos outros tem valor, de que forma ocorre os relacionamentos interpessoais, familiares e trabalhistas, como são as expetativas para o futuro entre outros.

Referências: 

BOTARI, M V ‘A necessidade de aceitação’, Psicoterapia, Janeiro de 2014. Disponível em: http://www.psicoterapia-sp.com.br/2014/01/a-necessidade-de-aceitacao.html/

Tutinicola ´só se fala em uma ciosa: o fim dos likes no instagram´, Julho de 2019. Disponível em: https://medium.com/@tutinicola/s%C3%B3-se-fala-em-uma-coisa-o-fim-dos-likes-no-instagram-11b8d6121d08/

Autor desconhecido, ´Facebook – o porquê da carência das redes sociais´, 30 de out de 2014. Disponível em: https://blogporquedascoisas.wordpress.com/2014/10/30/facebook-o-porque-da-carencia-nas-redes-sociais/

Nalina Eggert  ´Publicações francesas terão ´alerta Photoshop´em imagens retocadas´´, Setembro de 2017. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-41452985/

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